quarta-feira, 11 de maio de 2011

Um menino pedante e depressivo

  Chamaram-me, uma vez, de pedante. Sim. Foi um professor meu, de história. Não pense que fiquei com raiva dele. Não! Ele é um dos maiores exemplos para mim. 
  Novamente  me chamaram de pedante, de chato e de deprimido. Até de covarde fui chamado. Isso porque exclamo e exponho-me demais. Sim, realmente faço isso. Exponho os conhecimentos que tenho sobre àlgumas coisas. Um detalhe, tuda a minha "exposição é de forma verbo-oral. O que cansa as pessoas que tentam ficar ao meu lado.
  Até ai tudo bem, tudo azul. Concientemente eu me controlo. Fico literalmente de "bico calado", em certas ocasições. O que é difícil. Muito difícil. E por ser um pseudo-escritor, remeto todo o meu rancor pedante de visão de mundo na minha obra. Só que minha obra se estende às redes sociais, como o Twitter, e agora esse tal de Blog. Pois consigo assim, mesmo que o mundo tenha acesso ao que escrevo, organizar meus pensamentos. Minhas depressões. Meus dilemas. Minhas pseudo-filosofias. Meu eu. Mas sempre vem um fulano e me critica via "online".  Meus conhecidos do cotidiano também têm acesso ao que escrevo na Internet. E eles comentam, criticam-me mais ainda. Sinceramente, estou tentando evitar expor minha depressão ao vivo e à cores. Meu refúgio é a minha obra, que infelizmente se estende à Internet. Será que nem aqui posso ser eu? Eu, o menino que foi tachado de pedante e depressivo. E agora, José?

domingo, 8 de maio de 2011

Topoi Carpe Diem

  A expressão que representa uma ideologia/filosofia de vida, Carpe Diem, nasceu, provavelmente, na Antiguidade Latina (Circuíto Roma-Alexandria), no século I a.C. Encontrada, inicialmente, na poesia lírica de Horácio (65-8 a.C.), a expressão representa a essência humana de aproveitar o dia como se ele fosse o último de sua vida. A repercussão do Carpe Diem se estendeu na Idade Média (no final século XVII, para ser mais preciso, na literatura arcadista), e na contemporaneidade com o movimento Hippie (do incício dos anos 60 ao final dos anos 70). Antes de esboçar toda a Topoi Carpe Diem quero deixar uma frase, trecho principal de uma música da Rita Lee:

"Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida, e da minha também." (Rita Lee)

Topoi Carpe Diem:

* Considerações sobre a instabilidade e a incerteza da existência;
* Inutilidade das preocupações com o futuro;
* Advertência sobre esperanças descabidas;
* "Memento mori" - Lembrar sempre da morte a qualquer intante. A vida é efêmera;
* Advertências ameaçadoras sobre a velhice;
* Conselho de resignar-se ao que os deuses nos reservam;
* Exortação ao gozo do presente; convite ao vinho, à festa, ao amor.

Palavras-chave: Carpe Diem; Lirica Latina; Antiguidade; Horácio.
 

Fichamento Sírio Possenti

O que se segue é o fichamento do livro Por que (não) ensinar gramática na escola do linguista Sírio Possenti. 


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. 24 reimp. Campinas: Mercado de Letras, 2010.


PALAVRAS-CHAVE

Ensino; gramática normativa; gramática descritiva; escola; língua


RESUMO

            Possenti, em Por que (não) ensinar gramática na escola, aponta uma concepção diferente sobre a metodologia do ensino da Língua Portuguesa na escola, pois a atual metodologia baseia-se, apenas, na gramática normativa (montante de regras gramaticais que impõem a variante padrão da língua – norma culta – não aceitando outras variantes, o que faz surgir o preconceito linguístico, e prescreve o certo e o errado sobre a fala e escrita da língua, o que considera errado tudo que não for de acordo com a gramática normativa). E essa “nova concepção” deve abordar como conceitos e métodos de ensino a gramática descritiva (gramática que apenas descreve, analisa e explica as diferentes variantes da língua falada e escrita, sem pretensão de prescrever o certo e o errado de como se falar e de como se escrever, visando as características em comuns destas variantes, e a partir disso aprimorar estudos sobre a essência da língua e como ela deve ser ensinada na escola.), e a gramática internalizada (conceitos linguísticos adquiridos através da repetição da língua por meio da fala, o que caracteriza o aprendizado durante o crescimento da criança, e são esses conceitos que devem ser abordados e aprofundados em aula, e não a repetição daquilo que a criança já sabe sobre sua língua).
            Ao longo do livro, Possenti aborda que o ensino “arcaico” da língua (gramática normativa) faz com que se perca muito tempo na escola com o ensinamento de regras gramaticais que os alunos inconscientemente, ou até conscientemente, já sabem e aplicam em conversas ou textos produzidos dentro e fora da sala de aula, como, por exemplo, a construção de orações, tanto na fala como na escrita, com sujeito, verbo e complemento, seguindo esta ordem linearizada (gramática internalizada). E, para Possenti, essa é função da escola: perceber o que o aluno já sabe sobre sua língua, expor a existência de uma norma padrão culta, e expor as variantes da norma sem menosprezá-las. Ou seja, o ensino da norma padrão é o ensino antiquado da gramática, e o ensino gramatical descritivo é o ensino da língua.
            Outro fato em pauta no livro do Possenti é que a gramática normativa, ao não levar em consideração a variação linguística, classifica o falante (os usuários da norma culta são aqueles de alto nível social, e os usuários das variantes populares são aqueles de baixo nível social) e desrespeita as condições históricas e sociais da evolução da língua, sendo esta a identidade prioritária de um povo/nação. Possenti discorre que a língua não é uniforme, ela se diferencia no modo de fala e escrita de acordo com a história evolutiva dela, e é um erro achar que a língua não é imutável, porque ela, ao longo de sua história, sofre interferências de outras línguas e se adapta às necessidades da fala e escrita das diferentes gerações falantes dela. Por essa razão, somada ao fato de que o aluno não tem a obrigação de saber as regras de sua língua para fazer seu uso, Possenti defende a ideia de que a escola deva ensinar a língua cada vez mais próxima das concepções da gramática descritiva. Pois possibilita, tanto ao professor como ao aluno, o estudo, análise e “correção” de determinados erros por meio da observação empírica na produção textual, e não por meio de exercícios repetitivos de preenchimentos de lacunas com a palavra desejada.
            A prática de leitura, para Possenti, é um recurso que auxilia o aluno a perceber métodos de uso da língua, fazendo com que ele conheça expressões e colocações não mais fluentes na fala, mas que podem ser introduzidas em seus métodos de escrita. E é desta maneira: prática de leitura, produção textual, análise empírica desta produção e o estudo/ensinamento das questões óbvias e corriqueiras da língua, que Possenti desenvolve sua tese de que, a conciliação destes elementos é a verdadeira aprendizagem, é o estudo aprofundado e fundamentado da língua, e a atual prática de ensino que visa, apenas, as concepções da gramática normativa, é errônea e desnecessária, fazendo com que o aluno se desinteressa pelas aulas de Língua Portuguesa.
            A estrutura de Por que (não) ensinar gramática na escola é divida em duas partes. Na primeira parte, Possenti esboça qual é o papel da escola, perante o ensino da Língua Portuguesa, a não uniformização da língua, qual é o público alvo da aprendizagem (ou seja, para quem se ensina), e quais são as dificuldades dos métodos de ensino do português. Na segunda parte, o autor expõe e exemplifica os três tipos de gramática (normativa, descritiva e internalizada), os erros corriqueiros que alunos, professores e escola cometem em relação à aprendizagem do português, o que é a língua, e como deve ser seu ensino na escola a partir do ponto de vista da gramática descritiva.

CITAÇÕES

“(...) a função da escola não é ensinar português padrão (... ) Dado que a chamada língua padrão é de fato o dialeto dos grupos sociais mais favorecidos, tornar seu ensino obrigatório para os grupos sociais menos favorecidos, como se fosse o único dialeto válido, seria uma violência cultural.” (POSSENTI, p.18)

“(...) variedade, que é uma das melhores coisas que a humanidade inventou. E a variedade linguística, está entre variedades as mais funcionais que existem. Podemos pensar na variação como fonte de recursos alternativos: quanto mais numerosos forem, mais expressiva  pode ser a linguagem humana. Numa língua uniforme talvez fosse possível pensar, dar ordens e instruções. Mas, e a poesia? E o humor?” (POSSENTI, p.36)

“Como aprendemos a falar? Falando e ouvindo. Como aprendemos a escrever? Escrevendo e lendo, e sendo corrigidos, e reescrevendo, e tendo nossos textos lidos e comentados muitas vezes, com uma frequência semelhante à frequência da fala e das correções da fala.” (POSSENTI, p.48)

“As regras de uma gramática normativa se assemelham às regras de etiqueta, expressando uma obrigação e uma avaliação do certo e do errado. (...) As regras de uma gramática descritiva se assemelha às leis da natureza, na medida em que organizam observações sobre fatos, sem qualquer conotação valorativa.” (POSSENTI, p.73)

“(...) há mudanças de padrão através da história. Esta observação é crucial. Não só há variação entre formas linguísticas padrões e populares ou regionais, mas há variação também no interior do padrão.” (POSSENTI, p.78)

“Fica óbvia também a ideia de que, antes de descrever a sintaxe e a morfologia das expressões, o professor deve certificar-se de que o aluno sabe usá-las e entendê-las. Usar e entender não é apenas saber apontar expressões equivalentes, mas é também conhecer em que medida as expressões se adaptam a situações concretas.” (POSSENTI, p.85)

“Aprender uma língua é aprender a dizer a mesma coisa de muitas formas. (...) Isto é, a língua nos dá sempre várias alternativas, e saber uma língua ativamente e “utilizá-la” como sujeito é em boa parte saber dizer uma coisa de muitas maneiras – inclusive, saber as pequenas diferenças de sentido e de condições de uso que essas várias maneiras implicam e supõem.” (POSSENTI, p.92)

APRECIAÇÃO CRÍTICA

            O livro do Possenti é uma utopia. Pois apresenta uma tese que idealiza um tipo de ensino gramatical: a gramática descritiva. Mas não leva em consideração fatores que impossibilitam esta “revolução” no ensino de Língua Portuguesa no Brasil. Não disse que a tese do Possenti é errônea, pelo contrário, seria ideal que suas concepções sobre o ensino gramatical fossem executadas oficialmente nas escolas de ensino regular, porém a não regularidade das metas de educação no país (digo: a diferença entre o ensino privado – e as diferenças entre as escolas que se intitulam tradicionais e as mais “liberais” – e o ensino público – que se diferencia de acordo com o município e o estado), distorceriam muito, devida esta extensão educacional, a concepção do é a gramática descritiva. Não havendo um estudo mais geral sobre o que é a língua em questão.
            Acredito, sim, que a prática de leitura e a análise empírica da língua por meio da leitura, discussão e produção textual são caminhos para o ensino da língua, tentando sempre estabelecer um “tronco” de características em comuns entre as variantes. E, a partir da análise empírica deste “tronco” e da produção textual (gramática descritiva) é que se pode aplicar a regras óbvias e básicas do português.
            Em suma, a sugestão do Possenti é viável e ideal, mas só será efetivada quando houver um consenso do que é realmente a língua, quais são os critérios de correção e aceitação gramatical e quais são os “créditos” que o aluno tem que obter para ser aprovado, durante seu ensino, em Língua Portuguesa. As ideias de Possenti já podem ser aplicadas, em estágio inicial, se forem exercidas diferentes práticas de leitura e produção textual. Pois, a partir daí já se pode fazer com que o aluno entre em contato com a escrita (literária, jornalística, técnica, etc.) e analisar o quanto que o aluno já sabe sobre a língua por meio de textos produzidos por ele mesmo.