sexta-feira, 6 de maio de 2011

A glória

  A vida é efêmera, a poesia é eterna. A poesia é a única lembrança viva de uma pessoa já funesta. A poesia é a glória do homem. O homem, autor da poesia, é o poeta, este é o "escultor", e é ele que constrói, em forma gráfica, a essência da vida humana com apenas duas ferramentas: a mente e a palavra. E o produto desta alquimia é a sua obra, a imagem humana através de tinta ou grafite. A poesia.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Poema "Operário em construção" de Vinicius de Moraes



E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe
num momento de tempo todos os reinos do mundo.
E disse-lhe o Diabo:– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória,
porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero;
portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
(Lucas, cap. V, vs. 5-8.)


Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asasEle subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão –
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
– "Convençam-no" do contrário –
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse:Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse:Não!

– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção

Dicas de leitura (Huxley, Bradburry, Clarice e Chico)

Dicas de Leitura:

"Fahrenheit 451" - Ray Bradburry



"A Hora da Estrela" - Clarice Lispector



"Admirável Mundo Novo" - Aldous Huxley


"Construção" - Chico Buarque



A Distopia do Século XX

  O que se segue é uma trabalho escolar que fiz, no ano passado (2010), para a aula de sociologia. O tema era sobre "A DISTOPIA DO SÉCULO XX", intercalando com a interpretação do ponto de vista sociológico do livro "ADMIRÁVEL MUNDO NOVO" (Aldous Huxley) e o poema "OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO" (Vinicius de Moraes).

SUMÁRIO

UTOPIA E DISTOPIA

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO E A ALIENAÇÃO NA LITERATURA
 
CONSTRUÇÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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UTOPIA E DISTOPIA

Para que se possa entender a distopia do século XX, e que mudanças a tecnologia voltada para o consumo interferiram na sociedade nesta época e da forma que esse fenômeno foi retratado nas diversas literaturas, tem-se que, primeiramente, saber o significado de distopia, e de seu antônimo utopia.
Utopia remete uma ideologia ou um plano inexistente. Através da ciência, que pretende expor a verdade, e a literatura que simula uma verdade, tenta-se explicar, representar e expressar uma realidade inatingível. Sendo automaticamente remetida a algo fantasioso.
As utopias surgiram como uma imagem invertida do real, onde só seria possível realizá-la a partir do momento em que as crenças místicas (mitos, religiões, rituais, etc.) fossem superadas, voltando suas ideologias para o racional extremo. Denominando a utopia como o sonho da razão.
Para que esse conceito possa ser exemplificado, além das referências que servirão de exemplificações posteriores, tem-se uma frase do Theodor Adorno que traduz o dito antes: “O esclarecimento, ou seja, a razão instrumental, é a radicalização da angústia mítica”.
Já a distopia é o contrário de utopia. A distopia mantém a tentativa de criar e simular uma verdade, só que sob tensões sociais voltadas à violência e/ou controle social (exemplo são os livros: “Laranja Mecânica” de Anthony Burgess, “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley e “1984” de George Orwell). Podendo também ser chamada de “utopia negativa”.
A distopia sempre está relacionada a universos opressivos, totalitários, em que a individualidade humana é sacrificada a razões do Estado, gerando na sociedade crises em relação à desimportância da cultura, arte e religião. Esse fato é a conseqüência do excesso de razão idealizado nas utopias junto com as mudanças comportamentais à base da tecnologia que estimula o consumo excessivo e a padronização humana. A distopia é nada mais que o conformismo e o negativismo social através de um senso comum descrente de melhorias positivas.

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO E A ALIENAÇÃO NA LITERATURA.

A partir das definições anteriores pode-se começar a entender como as mudanças sociais do século XX influenciaram diretamente na literatura.
O livro “Admirável Mundo Novo” do escritor inglês Aldous Huxley, foi escrito e publicado na década de 1930. Neste período a sociedade mundial deparou-se com a criação do automóvel e sua forma de produção (em série), que visava a padronização nas etapas de produção e acabamento final de um determinado produto de forma ágil e seqüencial (ou setorial). Essa influência denomina-se Henry Ford, criador da marca e dos veículos Ford e seu sistema de produção em série. Esse fenômeno é visível do livro de Huxley, no qual a figura divina da população atmosférica do livro é o próprio Ford. (Ex: D.F – Depois do Deus Ford).
No livro, o conceito de produção em série é visto no meio de procriação dos homens. Rondada por alta tecnologia genética, médica e biológica que evita o contato sexual e íntimo entre os indivíduos. Os embriões são “fabricados” através de combinações genéticas e condicionamentos para determinadas funções e classes hierárquicas (castas). O condicionamento é uma “determinação” sobre as atitudes e conceitos de felicidade de acordo com cada casta. O condicionamento nada mais é que a teoria do comportamentalismo, no qual o ser humano é padronizado e rotulado (Alfas, Betas, Gamas, Deltas e Ípsilons), fabricado em série para que sua vida seja destinada na execução de uma determinada atividade, e que isso seja a felicidade desde indivíduo. O condicionamento idealizado por Huxley também limita o pensamento pessoal, pois atividades como leitura, sexo ou outras privacidades são consideradas totalmente imorais nesse universo. Em uma passagem do livro, até para se drogarem (soma) devem ser publicamente e comunitariamente.
Para que haja uma relação do enredo do romance com sua categoria de distopia, tem-se que entender o título da obra (Admirável Mundo Novo), que vem de uma frase declamada na peça “Hamelet” de Shakespeare. Num primeiro momento, o romance demonstra-se uma utopia por expor um mundo em que todos são felizes e a sociedade é altamente desenvolvida por meio de tecnologia e razão instrumental. Essa “utopia” é confirmada pela personagem John (o selvagem), que sonha em fazer parte desse mundo, julgando-o extremamente civilizado. Num segundo plano, o selvagem depara-se com uma sociedade em que a arte (principalmente a leitura de romances românticos) e a religião foram banidas, e que não existe
mais nenhum tipo de sentimento em relação ao próximo, exceto a obsessão pelo consumo e pelo status social, que faz com pessoas se aproximem de outras pessoas. E que qualquer forma de rebelião contra esse sistema comportamentalista e, numa passagem do livro, contra a droga soma, será radicalizada. Nessa nova concepção o selvagem refaz a afirmação sobre o novo mundo, de forma irônica e conformista, características bastantes distópicas marcadas pelo suicídio do selvagem que como não foi condicionado, não conseguiu adaptar-se e muito menos encontrar a felicidade neste “admirável mundo novo”.
O livro é marcado pelo alto desenvolvimento de uma futura civilização inglesa. Esta marcada por uma excessiva razão instrumental, em que consegue manipular o condicionamento de cada individuo, fazendo-o feliz de acordo com as necessidades que convém para a manutenção em todos os setores que façam parte de uma sociedade civilizada. Essas necessidades à base do comportamentalismo fazem direta relação com a teoria da alienação estabelecida por Karl Marx, no século XIX. A Teoria da Alienação é referente aos processos burgueses, industriais, tecnológicos e capitalistas que interferem diretamente na relação social e comportamental do homem. A primeira alienação é relacionada à Liberdade, na qual o indivíduo acredita que a possui para usufruí-la ou vendê-la a quando lhe convenha. Porém esse precisa obrigatoriamente sacrificar sua liberdade para poder manter sua estabilidade social e substancial. Esse fenômeno é denominado por “falsa liberdade”, que é a dependência de um meio que envolve atividade remunerada para manter uma suposta posição social. A segunda alienação é relacionada à perda da noção do todo, ou seja, o indivíduo não tem acesso e posse daquilo que é fruto de seu trabalho (exemplo é o caso do funcionário que sempre fez parte da linha de produção e nunca pôde comprar um FORD T, no documentário “Nós que aqui estamos por vós lhe esperamos”). Fazendo um parêntese com o livro de Huxley, a casta operária (Ípsilons) não tem nenhum acesso daquilo que produzem, apenas recebem como forma de recompensa (faça o que eu quero que lhe presenteio – teoria comportamentalista) uma dose de pílula soma. A teoria da alienação se resume em estar fora do comum, ou seja, a anormalidade de algo não pertencer a quem é de direito ou decorrente de alguma atividade, e sim de outro.
No Brasil esta teoria (tanto a da alienação como a do comportamentalismo) foi traduzida através do poema “Operário em construção” do poeta Vinicius de Moraes. Nele o operário em questão é uma alegoria de todo o proletariado. Há, antes de começar a primeira estrofe do poema, um versículo da bíblia, em que Jesus é comparado ao operário e que é persuadido para adorar seu patrão (o Diabo), escravizando-se, vendendo sua força de trabalho
e liberdade, caindo, portanto na alienação marxista. Neste versículo Jesus não se submete ao Diabo não caindo na alienação.
No poema o operário é um leigo, no qual o trabalho (ou a construção) gera sua alienação, pois acredita que pode ou não escolher trabalhar, porém precisa obrigatoriamente desse meio, escravizando sua liberdade, por não poder deixar de trabalhar, senão não garante seu sustento pessoal e social. Nessa situação o operário encontra-se numa prisão ideológica, na qual prevalece a “mais-valia” que é o lucro do trabalho revertido ao patrão, e o salário do operário é menor que esse lucro, e o fruto de seu trabalho, que é sempre maior que seu salário, torna-se inatingível. A repetição desse serviço gera a racionalização do operário. Percebendo que o trabalho o transformou, e que o verdadeiro país é construído a partir do proletariado, e este é menosprezado pelas classes burguesas (consciência de classe social). A conscientização faz com que o operário se revolte contra seu patrão (“Que sempre dizia sim / Começou a dizer não / E aprendeu a notar as coisas / A que não dava atenção”), e a forma de revolta que encontrou foi através de greves, manifestações e até mesmo passeatas (motins). Como a greve interfere diretamente no lucro do patrão, por ser a paralisação da produção, leva o patrão a fazer “politicagem trabalhista” (falsas promessas, falsa democracia interna e a idealização de uma utopia que supostamente seria alcançada de acordo com o comportamento do operário – comportamentalismo), podendo ser exemplificada nos seguintes versos: “- Loucura! – gritou o patrão / Não vês o que te dou eu? / - Mentira! – disse o operário / Não podes dar-me o que é meu.”. Mesmo manifestando, o operário tem que trabalhar para manter sua sobrevivência, aceitando e se submetendo novamente a outro homem. Só que agora ele está “construído”, consciente da desigualdade e de sua escravidão, que faz com que surge o sindicalismo, que é um movimento de submissão do proletariado, porém faz com que continuem as greves em busca dos direitos sociais, trabalhistas e morais dos operários, mas sempre exercendo seu trabalho para poderem manter sua sobrevivência e a manutenção social. Mantendo por tanto o ciclo capitalista, que é a “luta” entre a classe pobre (proletariado) e a classe dominante (burguesia), sempre em busca de igualdade social dentro do sistema capitalista (doce utopia).

CONSTRUÇÃO

No caso do personagem lírico do poema “Operário em construção”, este (o operário) sempre será alvo de perseguições, pois representa uma ameaça (através dos sindicatos e greves paralisantes) ao sistema de produção capitalista. Sendo sempre uma figura notável na sociedade. Porém existe outra classe social, em que indivíduos fazem parte dela, mas apenas a vivem, não se tornam importantes ou muito menos notáveis. Sendo “descartáveis”, que quando retirados do meio geram uma melhoria social.
Essa concepção é também descrita na literatura, como no livro “A hora da estrela” de Clarice Lispector, em que a personagem Macabéa só foi “notada”, ainda que de forma negativa ao ser atropelada e atrapalhar o trânsito, causando uma interferência no cotidiano daqueles que passaram pelo mesmo caminho que Macabéa.
Essa concepção pode ser denominada como “negativista”. Na qual um indivíduo que sempre garantiu, de acordo com sua posição social, a manutenção da sociedade capitalista, nunca foi percebido devido a fazer sempre aquela mesma atividade, não proporcionando ameaça ou aversão a aquilo que lhe é imposto ou determinado. Dessa forma, ao se envolver em algo que resultará numa mudança, num determinado espaço e tempo (como um acidente de trânsito, no caso de Macabéa, ou como uma manifestação, no caso do selvagem no livro de Huxley ou a greve no poema de Vinicius). E normalmente essa mudança, dentro da realidade distópica, será de forma negativa, pois aquele momento de “glória” do indivíduo envolvido num acidente ou greve, mesmo estando na situação de vítima, será mal visto por resultar em uma atrapalhação do cotidiano padronizado daquelas pessoas que também estão envolvidas na situação.
Outro exemplo desta teoria é a letra de música “Construção”, composta pelo cantor brasileiro Chico Buarque de Holanda. Nela o operário da situação começa a realizar determinadas atividades para que seja notado pela qualidade daquilo que faz, como amar mais sua mulher e seus filhos, realizar o trabalho (a construção) como a eficiência de uma máquina e de forma que pareça realizado através de mágica, etc. Porém isto não basta, pois esse operário estará apenas realizando seu trabalho com mais eficiência, trazendo mais lucro ao seu patrão, alimentando e garantindo a manutenção da sociedade capitalista, que como não trás nenhum perigo a este sistema, não será uma ferramenta de importância social notável,
exceto pelo momento em que bebeu demais e ao ficar bêbado atravessou a rua e foi atropelado, atrapalhando o trânsito e o sábado, tendo seu momento “hora da estrela”. (Morreu na contramão atrapalhando o tráfego / Morreu na contramão atrapalhando o público / Morreu na contramão atrapalhando o sábado.)
Em suma, a literatura do século XX voltou-se para a construção de ambientes distópicos, mostrando o quanto os avanços tecnológicos e científicos podem interferir diretamente na sociedade e até que ponto isso é algo positivo ou negativo. Uma dessas interferências foi a padronização comportamentalista, que gera a padronização do homem por meio de condicionamentos. Nesses condicionamentos são impostas ideologias que alimentam a alienação humana, debatida antes por Marx, que torna o indivíduo mais um dentre outros, só sendo importante quando se rebelava contra o sistema ou atrapalhava o cotidiano dos demais indivíduos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA PINTO, Manuel da. Prefácio do livro “Fahrenheint 451” de Ray Bradburry. Editora Globo. São Paulo, 2009.
HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. Edição Globo de Bolso. Editora Globo. São Paulo, 2009.
MORAES, Vinicius de. Operário em construção. Antologia Poética. Edição Companhia de bolso. Editora Companhia das letras. p.311. São Paulo, 2010.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Editora Rocco LTDA. São Paulo, 2008.
HOLANDA, Chico Buarque de. Construção. Disponível em <http://letrasdespidas.wordpress.com/2007/07/12/chico-buarque-construcao> Acesso no dia 10 de novembro de 2010.
ANTUNES, Thiago. Aula sobre Teoria da Alienação. Centro Educacional SESI. São Paulo, 2010.
ANTUNES, Thiago. Aula sobre Utopia e Distopia. Centro Educacional SESI. São Paulo, 2010.
ANTUNES, Thiago. Aula sobre o livro “Admirável mundo novo” de Aldous Huxley. Centro Educacional SESI. São Paulo, 2010.