segunda-feira, 4 de julho de 2011

Fichamento A Linguagem em uso


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

FIORIN, José Luiz. A linguagem em uso. In: Introdução à Linguística Volume I. São Paulo: Contexto, 2002. p.165-185.


PALAVRAS-CHAVE

Pragmática; linguagem; usos da língua; atos de fala; enunciação


RESUMO

José Luiz Fiorin em A linguagem em uso toma, como ponto de partida, os conhecimentos linguísticos para a compreensão da língua na situação concreta de fala. Para o linguista, não basta apenas haver os conhecimentos fônicos, semânticos e combinatórios da língua, mas sim os instrumentos de interpretação da enunciação durante uma interação sociocognitiva (comunicação). O estudo destes instrumentos relacionados à enunciação recebe o nome de Pragmática. Esta estuda a relação entre o sistema linguístico e seu uso durante a fala. De acordo com Fiorin, há frases e palavras que seus entendimentos serão possíveis, apenas, na situação concreta de fala.
Os objetos de estudo da Pragmática são os fatos de comunicação. São estes: a enunciação (ato de enunciar uma sentença linguística por meio da fala); a inferência (quando um enunciado implica outro[s] enunciado[s] e cabe a Pragmática orientar qual o sentido literal de uma inferência); e instrução (termos ou palavras do discurso [conectores, conjunções, preposições, advérbios] que instruem uma interpretação do enunciado).
Fiorin discorre sobre a Teoria dos atos de fala de John Austin, filósofo e linguista, estudioso da Pragmática. Sendo esta Teoria a análise de enunciados na forma afirmativa, na primeira pessoa do singular do presente do indicativo da voz ativa. Esses enunciados afirmativos são denominados de performativos. Quando há a condição de sucesso, ou seja, um performativo foi realizado com êxito dentro da interação, ocorre(m) a(s) circunstância(s) de enunciação, logo um performativo foi realizado e houve comunicação. Para que ocorra a condição de sucesso de um performativo (o que implica haver comunicação), é necessário que a enunciação cause algum efeito, dentro da interação; é necessário executar a enunciação em contexto/ambiente adequado; e é necessário, antes de tudo, haver interação sociocognitiva, o que efetiva a enunciação.
Outro ponto abordado por Fiorin em relação à Teoria dos atos de fala são as Máximas conversacionais. Esta afirma que a conversação é constituída por enunciados que têm, sempre, uma finalidade dentro da interação. Entre essas Máximas estão: a da quantidade (indicação de quantidade atributiva ou numeral para ser dado um tanto de informações necessárias na comunicação); a da quantidade de verdade (indicação verídica de quantidade atributiva ou numeral de informações enunciadas); a da relação de pertinência (indicação de informações necessárias e pertinentes ao tipo de conversação que se tem dentro de um contexto); e a Máxima de maneira (exposição clara e objetiva das informações inseridas nos enunciados. Desta forma é transmitida a certeza/verdade daquilo que se diz, o que convence o interlocutor do ponto de vista do falante por meio do discurso indireto e respeito às regras da conversação, como, por exemplo, os turnos de fala).
O último ponto abordado por Fiorin é em relação aos Pressupostos e subentendidos, ou seja, a identificação de implicaturas de informações implícitas nos enunciados, o que pode levar à arbitrariedade e/ou ambiguidade da compreensão destes enunciados. De acordo com o linguista, quando a informação for explícita, cabe ao interlocutor o direito de questionamento, por essa razão que os pressupostos têm que ser verdadeiros, pois eles serão implícitos, o que não caberá questionamentos. O bom uso de pressupostos está relacionado ao conhecimento de mecanismos linguísticos, para efetivar um argumento que levará o interlocutor a aceitar as ideias exposto-propostas ou a negação destas ideias, sem discussões sobre. Entre esses mecanismos linguísticos que corroboram os pressupostos estão os adjetivos; as orações adjetivas; certos advérbios; tempo e modo verbal; e certas conjunções. O pressuposto por ser contestado, cabe ao emissor usar dos mecanismos linguísticos para não o ser. Já os subentendidos não o são, pois, por meio de insinuações ou alusões, remete-se ao sentido literal das palavras, logo não há o comprometido direto pelo o que foi dito.
Em A linguagem em uso, Fiorin faz uma introdução à Pragmática, sendo objetivo desta área da Linguística a produção e interpretação completa de enunciados, em situações reais de uso (a fala – a interação sociocognitiva – a comunicação), levando, sempre, em consideração o contexto em que há o uso real.

CITAÇÕES

“No sistema linguístico, temos oposições fônicas e semânticas e regras combinatórias dos elementos linguísticos. (...) A Pragmática não confere à língua uma posição central nos estudos linguísticos, não a vê isolada da utilização da linguagem. (...) A Pragmática estuda a relação entre a estrutura da linguagem e seu uso, o que fora deixado de lado pelas correntes anteriores da Linguística, que criaram outros objetos teóricos. O estudo do uso é absolutamente necessário, pois há palavras e frases cuja interpretação só pode ocorrer na situação concreta de fala.” (FIORIN, p.166)

“Nos anos 1970, a Pragmática era considerada por muitos linguistas a ‘lata do lixo da Linguística’, pois diziam eles que ela se ocupava em resolver os problemas não tratados por objetos teóricos da ciência da linguagem. Seu objeto seria um conjunto de fatos marginais. Essa visão é completamente errônea. Ela trata dos princípios que regem o uso e não dos usos singulares. Se uma expressão tem vários sentidos quando é usada, isso deriva de um princípio pragmático aplicado a ela. A Pragmática vai procurar descobrir esses princípios que governam os diferentes sentidos dados pelo uso.” (FIORIN, p.169)

“Austin abandona a ideia de que possa existir um teste puramente linguístico para determinar a existência do performativo e volta à própria definição do performativo, ou seja, ele é a realização, ao enunciar, de um ato de fala.” (FIORIN, p.172)

“Segundo alguns autores, os comportamentos linguísticos são determinados por regras ou princípios gerais de natureza racional, ou seja, a maneira de utilizar a linguagem na comunicação é regida por princípios gerais assentados em inferências pragmáticas.” (FIORIN, p.176)

“O uso adequado dos pressupostos é muito importante, porque esse mecanismo linguístico é um recurso argumentativo, uma vez que visa a levar o leitor ou o ouvinte a aceitar certas ideias. Com efeito, introduzir no discurso um dado conteúdo sob a forma de pressuposto implica tornar o interlocutor cúmplice de um dado ponto de vista, pois ele não é posto em discussão, é apresentado como algo aceito. Mesmo a negação das informações explícitas contribui para corroborá-lo.” (FIORIN, p.182)

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