segunda-feira, 4 de julho de 2011

Fichamento Lutar com Palavras


FICHAMENTO


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras – Coesão e coerência. 1 ed. 5 reimp. São Paulo: Parábola, 2010.


PALAVRAS-CHAVE

Coesão; coerência; texto; palavra; relações textuais; recursos textuais; linguística


RESUMO

            Irandé Antunes inicia seu livro, Lutar com palavras – coesão e coerência, com as seguintes questões: O que é coesão? O que quer dizer “texto incoerente”? A partir destas questões que a autora trabalha sua obra, visando expor quais são os elementos lexicais, gramaticais, estruturais e conteudistas necessários para a construção de um texto com sentido e que supra seu objetivo principal: criar um diálogo comunicativo entre o autor e o leitor.
            De acordo com Antunes, é necessário entender o processo de escrever. No primeiro processo, escrever é uma atividade de interação, ou seja, é o diálogo entre o autor e o leitor em busca de transmissão e recepção de conhecimento e/ou informação. No segundo, escrever é uma atividade cooperativa, isto é, sujeitos (dois ou mais) agem para a interpretação de um sentido que está sendo dito/escrito com a intenção de atingir um determinado leitor. No terceiro, escrever é uma atividade contextualizada, ou seja, depende do espaço, momento e evento cultural no qual o texto está inserido, o que interfere na sua estrutura, temática e linguagem. No quarto, escrever é uma atividade textual, ou seja, ela é uma organização de palavras e frases justapostas que, quando estruturadas, dão sentido ao discurso. No quinto, escrever é uma atividade tematicamente orientada, ou melhor, há uma ideia central, um tema que será desenvolvido do início ao fim do texto. No sexto, escrever é uma atividade intencionalmente definida, ou melhor, escreve-se com uma intenção, um objetivo do autor em expor algo que será lido por um leitor. Nada é escrito para ser eternamente lacrado, sem que nunca ninguém tenha acesso ao texto. No sétimo, escrever é uma atividade que envolve especificidade linguísticas e pragmáticas, isto é, a linguagem está inter-relacionada com uma atividade interativa com o contexto (espacial e cultural), o que faz aparecer as peculiaridades de cada texto. Esse sétimo processo intercala-se, diretamente, com o oitavo, no qual escrever é uma atividade de gêneros particulares de textos, ou seja, os textos apresentam-se de diferentes formas de estruturação e linearização de ideias, o que caracteriza os diversos gêneros textuais: uma carta, uma notícia, uma declaração, etc. No nono, escrever é uma atividade que retoma textos, quer dizer que, sempre o autor retoma ideias já antes escritas, o que faz da escrita algo não inteiramente original, o que vale é a habilidade do autor mesclar suas ideias com as que ele está se baseando, ou seja, o diálogo entre autores que abrange também conhecimentos prévios e compartilhados do leitor. No décimo e último, a escrita é uma atividade em relação de interdependência com a leitura, isto é, necessita-se da leitura para ter base sobre o que escrever, e para ter acesso aos escritos de um autor, é preciso saber dos mecanismos de leitura para poder ler e interpretar tais escritos.
            Outro detalhe que Antunes expõe em sua introdução é que, a atividade de escrever existe por meio do planejamento (estágio de pensar sobre o que será escrito), da escrita (incluir graficamente de forma crua, porém organizada, o que foi pensado no primeiro estágio) e da revisão (releitura do que foi escrito acrescentando, retirando e organizando sucintamente trechos que constituirão o discurso final). E, para que a construção de textos relevantes e muito bem elaborados seja uma prática frequente, é necessária uma aplicação e reflexão sobre os elementos adequados que farão com que o texto tenha sentido. Essa construção elaborada só será frequente a partir do momento em que a leitura e a escrita serem práticas excessivas daquele que escreve. Depois de apresentar os processos da atividade de escrever, Antunes discorre sobre o que é coesão, e quais são os elementos textuais que proporcionam o entendimento do texto.
            De acordo com a autora, coesão é o mecanismo que une diversos elementos textuais para gerar sentido e criar uma unidade temática ao longo do discurso. Esses elementos são os recursos textuais, que constituem as relações da coesão do texto por reiteração (repetição e substituição de termos em comum), associação (seleção lexical) e conexões (relações sintático-semânticas).
            A relação de reiteração é dividida em repetição e substituição. A repetição consiste na estratégia de voltar a um tópico anterior do texto para que seja retomada a ideia (ou termo-chave) que consiste o conteúdo do discurso. O recurso de repetição, para que não ser considerado uma redundância que empobrece o texto, é subdivido em três estratégias: a paráfrase; o paralelismo; e a repetição propriamente dita. A paráfrase é um recurso da repetição que retoma um conteúdo já descrito para que seja acrescentada uma tradução ou explicação, assim, o conceito apresentado torna-se mais “transparente” diante da leitura de um leitor. A paráfrase é introduzida por expressões como: ou seja, isto é, ou melhor, em outras palavras, etc. O paralelismo é um recurso que organiza e coordena elementos sintáticos de mesma estrutura gramatical num mesmo discurso, o que gera articulação num enunciado. O paralelismo é introduzido, na maioria dos casos, por expressões como: mas também, não apenas, mas ainda, etc. A repetição propriamente dita é fazer retomada de um nome por meio da repetição de tal. A repetição propriamente dita serve, exclusivamente, para dar ênfase num termo (unidade mínima do discurso) e poder transmitir, ao leitor, a ideia desejada pelo autor.
            A relação de reiteração por substituição é a “troca” um termo por outro de mesma ou diferente classe gramatical. A substituição é subdividida em: gramatical e lexical. A substituição gramatical consiste em substituir um termo por um pronome (ex: “A casa era por aqui... Onde? Procuro-a” – Manuel Bandeira, 1974, p.179). Este caso, de que primeiro vem o termo, depois vem o pronome que o distingue e substitui, é denominado de anáfora. Já, o caso em que o pronome de distinção e substituição vem primeiro ao termo é denominado de catáfora. A substituição lexical é a “troca” de um termo (ou unidade lexical) por outro com mesmo valor de equivalência num discurso. Desta forma, é retomada uma referência do texto por meio de outras palavras que lhe atribuirão características, acrescentando informações ou dados extras sobre o termo referencial em questão. O recurso de substituição lexical é subdividido em: substituição por sinônimos (“troca” de um termo por outro que tem mesmo valor de sentido), por hiperonímia (palavras gerais, de valor hierarquicamente mais elevado por generalizar – ex: animal [hiperônimo de gato, galo, etc.]), e por caracterização situacional (retomada de um referente por meio de uma expressão com função de descrição, evidenciando o tal referente. A caracterização situacional pode ser introduzida por meio de epítetos ou rótulos).
            Antunes adiciona à relação de reiteração por substituição, a retomada por elipse ou substituição por zero. A elipse consiste na omissão de um termo para que seja evitada uma repetição desnecessária.  conceito de elipse fica mais claro de acordo com a definição da própria autora: “(...) a elipse corresponde à estratégia de se omitir um termo, uma expressão ou até mesmo uma sequência maior (uma frase inteira, por exemplo) já introduzidos anteriormente em outro segmento do texto, mas recuperáveis por marcas do próprio contexto verbal em que ocorre, às vezes, por uma vírgula (...)” (ANTUNES, p.118).
            Continuando, para Antunes, a coesão textual é construída por recursos que se relacionam. O primeiro é o de relação por reiteração. O segundo é o de relação por associação. A associação consiste na seleção lexical de palavras semanticamente próximas que se relacionam com a ideia (unidade de tema) principal do discurso. A associação está, inteiramente, interligada às estratégias de reiteração juntas ao domínio entre autor/leitor de conhecimentos prévios e compartilhados que darão corpo à unidade temática do discurso em questão.
            O terceiro recurso coesivo é a relação por conexão. A conexão textual é estabelecida por meio dos conectores (preposições, conjunções; advérbios e locuções) para que haja uma interligação dos períodos textuais, o que ocasiona a “costura” de todos os elementos conceituais e textuais do discurso, e por fim, haver uma transmissão/recepção de informações entre autor/leitor por meio da interação sócio-cognitiva (o texto). A relação de conexão, de acordo com Antunes, é uma articulação textual que tem a função de indicar a orientação discursivo-argumentativa do que está sendo escrito, e por essa razão, que o autor deve conhecer os mecanismos semânticos da conexão para estabelecer a articulação de seu texto. Os mecanismos semânticos são os conectores que expressam causalidade (causa da consequência de um segmento a outro), condicionalidade (condição de um segmento a outro), temporalidade (tempo linguístico das ações textuais em foco no discurso), finalidade (explicação de um segmento por outro), alternância (pode ser de maneira exclusiva, isto é, não admite duas alternativas, e também pode ser de maneira inclusiva, ou seja, as alternativas são somadas), conformidade (realização de um segmento por meio de um acordo com outro), complementação (um segmento completa outro por meio de aposto), delimitação ou restrição (quando uma oração restringe o conteúdo de outra), adição (introdução de termos, de sentido argumentativo, a mais no discurso com a função de acrescentar informações conclusivas sobre um determinado segmento), oposição (expressões adversativas e concessivas que geram oposição entre um seguimento e outro que o seguirá), justificação ou explicação (explicação, esclarecimento ou justificação de um segmento por outro), conclusão (conclusão a partir de conceitos explicitados de um segmento por outro anterior) e comparação (semelhanças e diferenças entre segmentos).
            A partir da exposição dos recursos textuais que estabelecem coesão, Antunes discorre sobre a coesão, o léxico e a gramática. Mostra que todos os três estão interligados para hver sinalização (nexos articulatórios) do texto. A gramática, para a autora, não é o conhecimento sobre o que é “certo e errado” em relação à língua, e sim, os conhecimentos básicos e necessários dos elementos textuais que a língua disponibiliza para que seja possível a construção de textos coesos. O que responde as questões iniciais feitas por Irandé Antunes: coesão é articulação, a ligação, a “costura” dos elementos conceituais que dão corpo aos enunciados que constroem um texto. E coerência é o modo como foram articulados tais elementos, como foi possível gerar coesão, a partir disto, gera-se sentido no texto, e é possível haver transmissão e recepção de informações entre autor e leitor. Coesão é a interligação de ideias. Coerência é sentido por meio da coesão.
            Irandé Antunes encerra seu livro expondo que o ensino sobre coesão e coerência é a verdadeira gramática, é a aprendizagem sobre a língua, é, por meio de textos, o sentido da comunicação, é o uso verdadeiro da linguagem e de seus recursos de expressão.


CITAÇÕES

“1.3.1. Escrever é, como falar, uma atividade de interação, de intercâmbio verbal. Por isso é que não tem sentido escrever quando não se está procurando agir com outro, trocar com alguém alguma informação, alguma ideia, dizer-lhe algo, sob algum pretexto.” (ANTUNES, p.28)

“1.3.2. Escrever, na perspectiva da interação, só pode ser uma atividade cooperativa. Uma atividade em que dois ou mais sujeitos agem conjuntamente para a interpretação de um sentido (o que está sendo dito), de uma interação (por que está sendo dito). (...) 1.3.3. Escrever, a outros e de forma interativa, é, pois, uma atividade contextualizada. Situada em algum momento, em algo espaço, inserida em algum evento cultural.” (ANTUNES, p.29)

“1.3.4. Tal como falar, escrever é uma atividade necessariamente textual. Ninguém fala ou escrever por meio de palavras ou de frases justapostas aleatoriamente, desconectadas, soltas, sem unidade. (...) a competência comunicativa, aquela que nos distingue como seres verbalmente atuantes, inclui, necessariamente a competência para formular e entender textos, orais e escritos.” (ANTUNES, p. 30)

“1.3.5. Escrever é uma atividade tematicamente orientada. Ou seja, em um texto, há uma ideia central, um tópico, um tema global que se pretende desenvolver. Um ponto de chegada, para o qual cada segmento vai-se encaminhando, vai-se orientando.” (ANTUNES, p.32)

“1.3.6. Escrever é uma atividade intencionalmente definida. Escreve-se para se obter determinado fim, para cumprir determinado objetivo. Na verdade, nenhum dizer é simplesmente um dizer.” (ANTUNES, p.33)

“1.3.9. Escrever é uma atividade que retoma outros textos, isto é, que retoma a outros dizeres. De forma mais ou menos explícita, estamos sempre voltando a outras fontes. (...) Nunca somos inteiramente originais. Nosso discurso vai-se compondo pela ativação de conhecimentos já adquiridos. (...) 1.3.10. Por últimos, gostaria de lembrar que a escrita é uma atividade em relação de interdependência com a leitura. Ler é a contraparte do ato de escrever, que como tal, se complementam. O que lemos foi escrito por alguém, e escrevemos para que o outro leia.” (ANTUNES, p.35)

“O que quero sublinhar aqui é que não se pode, ingenuamente, esperar que, sem aplicação, sem reflexão, sem tentativas, muitas e persistentemente continuadas, se possa chegar a desenvolver as habilidades de ler e escrever textos relevantes e adequados aos muitos propósitos interativos de nosso dia a dia.” (ANTUNES, p. 39)

“(...) coesão, exatamente como sendo essa propriedade pela qual se cria e se sinaliza toda espécie de ligação, de laço, que dá ao texto unidade de sentido ou unidade temática.” (ANTUNES, p.47)

“(...) a função da coesão é exatamente a de promover a continuidade do texto, a sequência interligada de suas partes, para que não se perca o fio de unidade que garante a sua interpretabilidade.” (ANTUNES, p.48)

“(...) a repetição não é aquele ponto negativo, aquela mancha evitável acima de tudo, capaz de deixar os textos em condições de baixa qualidade. Evidentemente, como qualquer outro recurso, a repetição merece o cuidado da utilização equilibrada, uma vez que o conteúdo de um texto não pode reduzir-se a um mesmo sem fim, que não avança e, circularmente, não sai do lugar.” (ANTUNES, p.81)

“Não existe texto sem gramática nem existe gramática que não seja para que os textos sejam possíveis. O que ainda falta, não apenas na escola, mas em todos nós que, por vezes, a pressionarmos tanto em torno destas falsas questões, é uma exploração textual da gramática, o que significa dizer um estudo de como as categorias e as regras gramaticais devem ocorrer nos textos para que eles resultem bem construídos.” (ANTUNES, p.90)

“Como se vê, escrever não é apenas uma atividade mecânica de grafar uns sinais sobre uma página em branco. É construir uma peça de interação verbal, ditada pelos sentidos e pelas intenções que se tem em mira e regulada pelas muitas circunstâncias que fazem a situação.” (ANTUNES, p.94)

“(...) saber gramática implica muito mais que saber classificações. Implica ir além de conhecer os nomes que as coisas da língua têm, para saber como usá-las nos textos que a gente constrói todo dia (...)” (ANTUNES, p.95)

“De fato, a observação de textos, de uma narrativa escrita, por exemplo, nos mostra como o autor, em geral, adota, na sequência do texto, a estratégia de ir variando entre repetir a palavra, substituí-la por um pronome, por uma expressão equivalente ou recorrer a uma elipse. Assim é que as cadeias coesivas, que sinalizam a continuidade do texto, vãos sendo formadas por diferentes recursos.” (ANTUNES, p.120)

“Em suma, a coesão ultrapassa a simples marca superficial do texto ou a simples justaposição de palavras ou frases. Os diversos tipos de recursos coesivos, pelos quais se espera que haja a necessária continuidade e articulação das subpartes, têm de estar em interação e vinculados a sentidos globais e a intenções comunicativas, o que, de fato, dará ao ‘texto’ o estatuto de sua unidade.” (ANTUNES, p.139)

“(...) não há uma coesão que exista por si mesma e para si mesma. A coesão é uma decorrência da própria continuidade exigida pelo texto, a qual, por sua vez, é exigência da unidade que dá coerência ao texto.” (ANTUNES, p.177)

“Ora, a língua não pode ser reduzida a uma questão de ‘certo e errado’. Seus usos incluem muitos outros elementos e mobilizam muito mais conhecimentos do que aqueles puramente gramaticais. Nem pode ser circunscrita a um determinado campo da atividade humana.” (ANTUNES, p.187)


APRECIAÇÃO CRÍTICA

            O livro Lutar com palavras – coesão e coerência de Irandé Antunes é fundamental no quesito linguístico de ensino gramatical da língua, pois a autora defende que a atual Gramática ainda está vinculada à análise de períodos e regras fora de contexto (texto), o que é um erro por não analisar através do discurso semântico. E é nisso que concordo com a autora, isto é, a comunicação (verbal e escrita) é a forma prática da utilização da língua, e aprendizagem de conceitos gramaticais, recursos linguísticos e elementos textuais de coesão deve ser adquirida a partir da análise da produção textual, na qual é visível o uso dos elementos coesivos, abordados ao longo do livro pela linguista, para a construção de discursos. E, quando estes discursos são bem elaborados (nos sentidos conteudistas e estruturais) percebe-se que o autor domina os recursos linguísticos que constituem a verdadeira gramática e os instrumentos de comunicação que a língua disponibiliza aos seus usuários.
            Também concordo com a autora a respeito do recurso da reiteração por repetição. Porque este recurso ainda tem conotação negativa, nos veículos textuais, por ser “tachado” de uma ineficiência do vocabulário, o que empobrece o texto. Irandé Antunes mostra que a repetição é um recurso de coesão, e que ela é subdivida em diversas estratégias para que seja evitada a redundância. O que vale, por parte do autor, é a habilidade manejar tais estratégias para evitar retomadas “pobres” ao longo do discurso.
            Outro ponto que torna o livro importante é o fato de Antunes trabalhar sua teoria não voltada a um único gênero textual. Pelo contrário, é voltada a uma visão geral sobre o gênero texto (quais são os elementos discursivo-coesivos que permitem a escrita de um conceito idealizado, e como são articuladas as ideias de um autor para que haja diálogo sócio-cognitivo com seu[s] leitor[es]).
            Em suma, concordo com a Irandé Antunes, pois seu livro traz uma nova visão sobre o que é gramática, e como deve ser o ensino de tal: por meio da análise textual (recursos que possibilitam a coesão e coerência do texto, pela articulação entre períodos e ideias). Eu que, particularmente, escrevo, aprendi muito sobre os recursos de coesão e sei que este conhecimento me auxiliará na escrita e na revisão de meus textos.    

2 comentários:

  1. Excelente este fichamento! Vou fazer uma prova e na bibliografia este livro é pedido. Porém, não o encontrei para a compra. Portanto, a postagem deste arquivo foi magnífica.
    Obrigada por contribuir, ainda que involuntariamente!

    ResponderExcluir